quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Soneto à Bondade da Lua

A bela flor do monte
ofusca a noite escura.*
Resplandesce, angélica, diante
da treva e de suas brumas.

O som de tensão é a vestal
para o lento dissipar da nuvem.
No negro profundo e virgem
desperta um farol ancestral.

Sobre um vale de sombras e lamentos,
erguem-se astros livres dos tormentos
que floresceram em nosso passado.

E o contemplar da imagem violenta
reverbera, cura a alma pestilenta.
Seu facho é, enfim, resgatado.

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* Versos de Jesus, do grupo musical Vozes e Acordes.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Corredor da Morte

Tem uma estrada longa.
Tão longa! Nem vejo o fim...
Ah, que adiantaria?
O real nunca é tão belo,
e o além me instiga o faro.

Então, por ela, caminharei!
Do mundo, à tangente chegarei!
Alcançar o limiar da Terra plana?
Claro! Nele, vou me pendurar!


E inicio o caminhar até a ponta,
a aventura que ferve em mim.
Já ouço a voz da euforia!
Eu sempre quis o futuro sincero
que a vida só fazia tornar raro.

Passam paisagens.
Mortes verdes, pássados amarelos,
traichoeiras límpidas e véus azuis intermináveis.

E, nas celas, pessoas e ratos,
em luta pelos últimos grãos
de dignidade.

Já vejo a saída da caverna!
A luz difusa me aguardava.
Desde o sempre, conhecia,
da vida bandida, o desfecho.

Assim que eu estiver no desfiladeiro,
meu grito ecoará nos sete mares.
E um raio muito intenso, ao me romper,
libertará minha pobre alma pra voar.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Aeons

Vai contar para o Paulinho
que eu vou lá pra madrugada
acender uma fogueira
e iluminar a encruzilhada.

Ah! Que solidão!
Sombras do nosso verão...

A tocha da juventude se avoluma em ti!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Mal II

- Ei, colega, conta aí como você veio parar nesse lugar aqui!

- Um cara me empurrou lá na pista de dança, tá ligado... Aí também eu saí rebocando ele e só parei quando fulminei o maluco. Aí pô homicídio, né? Tô aqui agora, parcero. Que merda cara... ah... pô tô lembrando quando eu era criança, que os outros garotos quando tentavam me bater minha mãe entrava sempre no meio e sapecava eles. Ela é foda! Ela sempre me garantiu, mané! Pô eu me amarro nela, acho que ela gosta de mim pra cacete. Mas agora num adianta nada. Preso aqui, amor não serve pra nada.

- Você, na verdade, entrou na prisão desde quando sua mãe resolveu te defender de tudo, seu pit-boyzinho de merda. Se tentavam te bater é porque tu vacilava com eles, mermão. Esse amor de mãe é que fez tu achar que ia sair impune de qualquer coisa. Quando tu rebocou o cara, foi com suas mãos, mas quem dava os impulsos aos teus braços foi o amor da tua mãe. Quem te prendeu foi ela. Você já tava encarcerado. A vida só tava esperando tu cair numa cela de verdade, pra ver se ajeitava a cabeça da tua família.

- Porra, cumpade... nem imagino o quê que tu fumou pra tá aqui hein.

sábado, 23 de julho de 2011

O Mal I

- Judeu, mas que coragem! Você tinha muita esperança em conseguir se safar?

- Eu a vomitei antes que ela me sufocasse ou fuzilasse. Expelir o peso da espera pelo milagre foi o que me deixou leve para correr e fugir dos alemães.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Uma balada na História

Prélude et Presto

Ante o alvorecer da Renascença, vivia, nas terras sicilianas, um bardo. Sob a face do bardo, habitava uma criatura estranha, tão poderosa quanto suas trovas. O bardo insistia em se angustiar e se castigar, ao não revelar seu demônio à realidade comum. E se, um dia, ele fosse devorado vivo? E se fosse, este demônio, a tão buscada inspiração a preencher eternamente as lacunas de seus versos?





Allemande

Trabalhando a loucura da alma do bardo, os laços e os traços da dor se evaporam. Quando ele e o alaúde se casam nas nuvens de Lá, se emancipa todo crime e aleivosia das terras de cá.





Courante

Mas ele estava perturbado. Não era ele, verdadeiramente, a se manifestar. Glória e fama empurravam seu ânimo, aproximando-o da tentação de sentir-se uma suposta deidade da arte. Não obstante seu grande reconhecimento, sua voz começava a sentir a fraqueza da alma, que já não encontrava inspiração no Belo exterior. Os astros, que sempre lhe confiaram rimas arrebatadoras, se esconderam sobre nuvens invisíveis, e já nem, sequer, elucidavam o bardo sobre os rios do destino.





Sarabande

A longo passo, este bardo desapareceu da vastidão dos horizontes, lentamente cedendo espaço à sua face outrora renegada. Sua vida tornou-se o início de uma missa, onde os probres seres afligidos e parcamente esperançosos velam, unicamente, por não perder a sanidade. Ainda assim, o bardo sabia que havia algo suspenso no ar, e esta eslúvia sensação era o único bem que ele tentava agarrar e possuir.





Gavotte I et II

Sua vida tornou-se o fim da missa. Agitada. Fervente. Tinha rastros lacônicos do Toque dos céus, que se assomavam numa arte tão valente, vibrante, violenta, que poderia violar o mundo num vira-mundo. O tridente do demônio se revelou: era uma espada luminosa. Então trovejou sua voz e suas cantorias por todos os campos, praias, castelos e bastilhas, ao ponto de inspirar a nova geração, junto a outros bardos tais quais ele, a escalar os próximos degraus rumo às distantes esferas celestes da Sabedoria.





Gigue

E se abriram os portões dos jardins do Novo Mundo! As novas terras e mares de encantos e desastres desafiavam os limites da antiga λογοσ* que insurgia ao horizonte. E um espectro, um espectro instigante e diabólico, passou a rondar as terras européias, o espectro de que a Verdade era próxima. Mal sabiam os ascendentes heróis que o caminho ao Renascimento real seria muito mais longo! Muito mais assustador! Entretanto, o mero caminhar em Sua direção já revela milagres além da órbita da humanidade. Milagres que fizeram os astros girarem novamente em torno do Sol, o mesmo Sol que já se ouvia nos versos do bardo e que brilhava nas frases do alaúde. E foi este singelo bardo, antes atrativo regional, que, em seu despertar pessoal, adquiriu importância milenar e abrasou os corações do ser humano, tornando os panoramas, doravante, abertos.




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*Logos: razão, capacidade que difere o ser humano dos outros animais

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Se o rio precisa do mar,
para que descer a montanha?
Se a façanha da água é o encontro,
só em um ponto vai desembocar?

Para que o eterno ciclo de busca e (des)encontro?

Para que o obstáculo, se a união é inevitável?

Para que a tortura, se a morte é inevitável?

Para que o casamento, se o amor não vai ter fim?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Apenas Castelos

Castelos nas correntezas do tempo
Castelos insolúveis nas tempestades
Castelos nas profundezas dos vales
Castelos nos penhascos imponentes

Castelos de sangue, morte e Cruzadas
rubros horrores nas rochas rajadas
tem um quê de intocável
tem um quê de diabólico

E quanto mais o tempo passa
mais silenciosos ficam
os sussurros dos corredores
os passados das torres

Nós definhamos, Eles não
Tem algum tipo de divindade
tem um quê de cálido
tem um quê de austero
Tem um Mistério inerte

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sono

Uma imagem começando a se formar:
nos recepcionam, as portas do Surreal!
A realidade - uma ilhota em alto-mar,
e a mente efervescendo no céu atemporal.

Sem igual, mergulhar nas fantasias!
Suspirar o incenso do ar feiticeiro!

No eslúvio ritual,
eis a sua transfigura
num espelho transcendental.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Cárcere Das Almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

(Cruz e Sousa)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sopro da Revelação

Ventos das arábias,
o que trazem para mim?
Serão os anúncios, enfim,
de que já se acabou esta era,
era de falácias?

Ventos das montanhas,
sibilem nestes ouvidos milenares,
que almejam o fim dos humanos pesares,
sobre a chegada da promessa
do mundo da boa-aventurança.

Ventos do sub-mundo escondido
sob o manto da consciência,
façam-me a Revelação autêntica
da vida que há num horizonte perdido.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ágape da Terra

Sou uma parte da onda.
Minhas nadadeiras são as brisas.
Céu cristalino e mares tão azuis-escuros...
espectadores onipresentes da jornada sem fim
à alma do mundo.

Deus, onde estará minha morada?
"Não se esconde atrás daquela cascata,
nem sob os lençóis da areia calma.
Seu destino é o alto-mar".

E minha jangada sem fim
se lançou aos sete mares.
E foi em pleno Nada,
um ponto perdido nos horizontes,
que senti o Tudo da mãe Terra.

Em seu berço marítimo,
tornei-me uno a seu amor,
um amor tão azul e tão capaz
de abarcar o mundo inteiro num azul sem fim.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Mendigo

Desde cedo,
jogado às baratas.
Sem sossego,
mordido... as traças.
Mas naquela alma há um coração...

As pessoas, apressadas...
você está morto, para elas.
Sonhos com fadas,
e, à espreita, a morte e sua cela.
Mas naquela alma bate um coração...

As lágrimas austeras,
canto tântrico taciturno,
exprimem o fundo de sua depressão.
A vida roubou sua fé... foi-se em vão.
Mas naquela alma sofre um coração...

Lágrimas ao chão...
Ai!

Eu que sempre o acompanhei,
eu que sempre o quis abrigar,
enfim, em seu corpo, me infiltrarei.

A maioria teme meu flamejar,
pois desconhece minha face mais cândida.
Pois, naquela alma, explode um coração.

Libertar-te-ei de sua tortura.
Quando estiveres pronto,
evoque meu nome:
Anjo da Morte.

domingo, 20 de março de 2011

Emissário da Desgraça


extravaze o magnânimo contido.

Se solos inférteis em ti desferem o atroz
há de revirá-los - libertai teu ser feroz!

Quando teu Mega Therion se expandir
Behemothes e Leviathans imersos em poder
sentirão de si a fúria perecer.

E no auge de tua megalomania
terras mares luas ouvirão teu rugido
escalando os vulcões de Ares e Titã
que dirá o ultimato do cosmo.


"SOU DEUS.
NÃO LUTAI CONTRA SUA LIBERTAÇÃO.
VENHA PARA O INFERNO,
ASSIM CONHECERÁS A LUZ
ATRAVÉS DO INCÊNDIO ETERNO
QUE DILACERA A ALMA DE TEUS IRMÃOS,
A LUZ FINAL DO DESTINO.

VENHA PARA MIM, VENHA PARA SUA CASA.
A MINHA LUZ É O SEU LAR,
É ME SERVIR NAS LABAREDAS QUE INFLAMAM
AS CINZAS DE SUA MISERÁVEL VIDA."


No instante, a plebe conhecerá tua face estranha.
Então, junto às estrelas, descenderá tua Vênus pelos céus
para ser, eternamente, o Portador da Luz.

Encerrada a batalha, tua luz será selada,
sob as profundezas dos continentes,
por Behemoth e Leviathan.


segunda-feira, 7 de março de 2011

Solitária pelo Amor

Toda a profundidade do oceano
contempla os pés de minha solidão,
meu veleiro fantasma.

Há mil anos procuro sua costa...
seu litoral. O lugar onde eu possa
abarcar minha alma e fugir
do frio cortante dos mares.

Nesses horizontes tão vastos...
em que continente estarás?
Vidas vão, vidas vem,
continuarei nossa busca
até o fim da eternidade.

Por você, que nunca encontrei,
mas de quem, no entanto, tão presente
é o acalanto! Que tanto amarei...

Preciso das tuas areias, do Sol do teu verão.
Meu pálido véu de noiva precisa
do dourado do teu pôr-do-Sol 
para assumir sua beleza.
Das tuas brisas, tuas maresias...
para se esvoaçar nos céus doravante abertos.

E, por isso, te persigo
pelo mundo, sozinha,
até o dia em que a Lua anunciará
tua morte, nossa morte, em meu seio...
e o cinza nublado se dissipará.
Nossa fundição astral.

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"I seek your coast
Your horizon...
Whispering fingertips
On dripping skin...

Feeble questions

Sounds from my throat"

(The 3rd And The Mortal)



quarta-feira, 2 de março de 2011

Azulão

Vai, Azulão,
Azulão, companheiro, vai!
Vai ver minha ingrata.
Diz que sem ela
o sertão não é mais sertão!
Ai! Voa, Azulão,
vai contar, companheiro, vai!...

(Manuel Bandeira)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Verão de novas brisas

Na beira da praia,
olhava para o nada,
o Tudo.

Na beira da praia,
sentia a brisa enxaguar
minha Alma.

Sentia a brisa da praia
olhar para o nada
de meu Ser.

Sentia seus olhares
enxaguando a praia,
enxaguando Tudo.

Sentia a brisa
varrendo os horizontes
do nada em minha Alma.

Sentia meus horizontes
mergulharem no nada
daquele Tudo.

Na beira do Ser,
sentia uma nova Estação
mergulhar nos horizontes.

Na beira da praia,
olhava para o nada.
Via o pôr-do-sol.



domingo, 6 de fevereiro de 2011

Mais maconha

Papel de fogo
tomei um toco
astro de rock
só se fuck
subi na pedra
da Maria Esperta
e acendi uma fogueira
comi a sereia sem pé nem cabeça
do Gato de Botas.

Sobe a escada
do topo da rua
e mergulha na piscina
a merda é tua
a pedra do rock
do topo do toco.

Sentai no varal
que vira mingau
esperneia na teia
que se engole mosquito
na casca da aranha.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Vast Blue Fear

Would you hide your dreams
into the deepness of the sea?

You're alone on the road,
sheltered by a stormy night
painted on the sorrowful sky.

What if the ocean dries away?
Will we nevermore feel the day?

Can you breathe in the abyss?
Try to get outside the stream.

Go alone through your throat
and growl like no horde of demons.
Let'em know that you will not sacrifice
your life!

May your wishes fulfill someday!
But while you're under fear you'll go astray.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Julgamento

Congelado, caiu numa fissura.
O miasma da cratera o devorando.
"Oh, céus!", sair como e quando?
Pelos Céus, sua lealdade jura.

Viria uma nuvem, da desgraça, emancipar seu corpo?
Ou se encerraria, trovejante, numa tempestade?

Sua única certeza era o assombroso.
Um dia, pagaria por sua aleivosia de existir.

Mas havia uma voz no meio do caminho...

domingo, 16 de janeiro de 2011

Alabastro de ferro e fogo

E, desde então, os principados
se arrependeram.
A guerra contra os ali calados,
calados dali que eram de Alah.

Nunca se arrependeram
das mortes que rasgaram.
Mas nunca mais sonhariam
com as deidades dançarinas.
Esfinges metamórficas
de vento, fogo e paixão.

Doravante os corroirá o ácido nostálgico
de suas noites de sultões do sangue.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ode ao gato

Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro. 

(Pablo Neruda)

Tradução: Eliane Zagury

domingo, 2 de janeiro de 2011

Emissária da Liberdade

Lá vem ela,
com seu olhar de pilar
que sustenta a torre
da cidadela.

Lá vem ela, com seus olhos castanhos,
pretos como a luz do dia,
lentos como furacões,
em meio ao silêncio dos trovões.

Lá vem ela,
em seu corpo flamejante,
de branco solar.
Magnetismo pulsante.

Lá vem ela,
imersa no manto negro,
cachoeira à noite,
de seus cabelos.

Lá vem ela, com sua voz lapidada,
diamante que subjuga
à lápide as outras,
semi-preciosas.

Lá vem ela,
com sua essência clandestina
que emudece a natureza;
entorpece à alteza os sentidos.

Lá vem ela,
com seu sorriso manhoso,
de quem procura um lar.
Venha pular em meus jardins!

Lá vem ela,
com suas asas rapsódicas.
Escrever histórias pelos céus,
ou, num véu, desaparecer de mim.

Lá vem ela, ela que,
a cada encontro, em sua trilha
arrasta meus olhares.
Pelos pilares do céu querem planar.
Junto dela, às trilhas do Sol,
aos panoramas da liberdade!