terça-feira, 16 de março de 2010

Flor do destino

Desastre na estrada:
uma flor vítrea rachada.
Que garoa a regaria?

Se o solo a abandonou,
se o Sol dela se esquivou,
se os ventos nela rebentaram...
qual bosque a acolheria?

Pobre flor renegada.
Uma semente bela despedaçada.
Nunca daria fruto, mesmo...

Flor do destino de todo homem.
Com o tempo,
a luz da donzela se apaga.


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domingo, 14 de março de 2010

Rezando pelas sombras

Eu já vivi dias felizes.
O tempo que duraram foi infinito,
mas ele também passa rápido.
Tão rápido...

Todas as eras cabem dentro desse ano,
mas esse ano durou pra mim o mesmo que um dia.
O que eu orei desde então
plasmou-se em minha vida.

Meus sonhos,
meus ideais,
foram pra longe,
não os posso alcançar.

Fora da sanidade,
pensei que estava rezando
pelo meu próprio bem,
mas descobri que rezava...

Pelas Sombras!
Ergui um templo pra saudade.
Pelas Sombras!
Passei a me abrigar, sem saber,
sob a capa do supremo caçador.

Um santuário de areia
se ergue para um deus feito de vidro.
Uma missa se celebra pra um amor
platônico...

- Não se entregue, desgraçado, perante a dor!
Vai além e mostra a todos seu esplendor!
Não reze com tanto ardor,
tiras da vida o próprio sabor!

E agora,
procura
o seu destino!
Ele nunca esteve por lá...

Fora da sanidade,
pensei que estava rezando
pelo meu próprio bem,
mas descobri que rezava...

Pelas Sombras!
Ergui um templo pra saudade.
Pelas Sombras!
Passei a me abrigar, sem saber,
sob a foice do supremo caçador.


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Rezando Pelas Sombras by Richard Martin Souza is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 3.0 Brasil License.
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quinta-feira, 4 de março de 2010

Jogos profanos

Um salto gelado
num lago de fogo.
Assim se comporta
o meu jogo.

A faca que invade
o flanco convidativo
dita a regra,
rola o dado.

Aos poucos o sangue evapora.
Aos poucos o corpo se submete
à ordem, dominante, da aurora.

Tua paixão me estraçalha e me enrola.
Vence até minha muralha de afazeres.

Já zerou o jogo.


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segunda-feira, 1 de março de 2010

Música das Esferas

Debaixo deste grande Firmamento,
Vês o céu de Saturno, Deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
E Marte abaixo, bélico inimigo;
O claro Olho do céu, no quarto assento,
E Vênus, que os amores traz consigo,
Mercúrio, de eloquência soberana;
Com três rostos, debaixo vai Diana.

(Os Lusíadas, Canto X. Luís de Camões)


Faça-se luz nas esferas sombrias.
Faça-se pausa na noite infinita.
Arrasta o peso do vácuo pro dia.
Encontra os sons da neblina na vida.

Quebra o compasso,
sintetiza as esferas.

Se os nossos pés se plantam no chão,
nossas mentes vagam na imensidão.
Como a fermata que se perde no tempo,
as equações se perdem no espaço.

Não se busca mais a resposta cristalizada na matéria.
Hoje só se acha a poesia da imagem.
E o que faltou foi a música das esferas.


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