sábado, 29 de dezembro de 2012

Esboço à moda existencialista do caos e da historicidade de uma decisão

Você já se sentiu conectado ao mundo? Já imaginou a imensidão de consequências deflagrada por cada ato seu?

Então imagine. Imagine quantos versos não seriam criados se você não existisse. Imagine quantas alegrias e tristezas não seriam respiradas se você não aspirasse vida! Imagine o quanto o mundo seria caótico - ou ordenado - se você não o transformasse a todo "agora"!

E, então, nos deparamos com esse problema: a metamorfose do espaço e do tempo conforme a metamorfose de seu ser. Entenda que, para haver uma transmutação, é necessário que sua consciência esteja inerte na corrente temporal universal. Quem está congelado nas memórias do inverno não percebe as novas flores da primavera. Porém, se você se deixa polinizar, você se torna também um agente polinizador! Essa retro-atividade é incompreensível... ou melhor... compreensível é, embora complexa.

Primeiramente, por que você resolveu lançar uma pipa aos céus? Será que você quis, ou será que a vontade ou atitude de outrem arrebatou sua família e amigos de tal forma que a pipa tornou-se a coisa mais importante de todos os futuros e pretéritos.. naquele instante? Por que a invenção da pipa originou um mar de possibilidades, e por que sua não-invenção teria originado um mar de outras possibilidades tão grande quanto? Transformam-se, no instante do voo da pipa, passado, presente e futuro. Um passado repredestinado, um presente caótico e volúvel, e um futuro livremente arbitrável que vai se concretizando a cada "agora". Tudo modificado por sua própria e tão comum consciência e por seus tão comuns atos conscientes.

O Universo é energia*. Você é energia. Essas palavras mal-tratadas são energia. Você está conectado a todo instante e de todas as formas possíveis a tudo. Você é a influência prima da natureza, e, a todo momento, sua natureza e a natureza do Universo se tornam unas, através da interação dessas formas de energia! E através dessa e de outras complexas e amarradas maneiras, o ser humano influencia o seu mundo tanto quanto, por ele, é influenciado.


*energia: não confundir com a energia que as ciências positivas concebem em seus modelos científicos

sábado, 22 de setembro de 2012

Etérea Admiração

Naquela tarde,
todas as suas paisagens
estavam ensolaradas.

Peregrinei pelos campos,
tendo me perdido
por tacar fora a bússola.

Delirante!
Valseamos
com a Lua e as estrelas.

Seu redemoinho
nos dilacerou
em infindáveis noites submarinas.

Por favor, Deusa das Tempestades,
agora remonta meu corpo de ilusões!

domingo, 22 de julho de 2012

O Bardo e a Sereia

Nas ondas de muitos séculos atrás,
certo bardo fazia sua primeira viagem
rumo a descobertas nos mares gregos.

A tripulação era conhecedora dos perigos,
mas os bravos marujos acreditavam
que Poseidon acalmaria as tormentas.

Levavam o barco pelas velas, os vendavais.
Maresias de novas ilhas eram aguardadas.

Carregavam, os marujos, o possível adeus
em seus corações temerosos.

Grande compositor, o bardo ainda buscava
descobrir com que luz preencheria
as últimas sombras do dia, em sua lira.

Talvez a viagem, enfim,
o livrasse das aflições de uma vida
sem razão – perdida em tempo e espaço,
enjaulada nas teias do dia-a-dia.



Em mares vindouros, as sereias aguardavam
novos homens que pudessem devorar.

Não há como não se atrair, tamanha é
a Beleza, que até ofendeu a Afrodite,
tamanho é o perfume do Lótus.

Longe da luz do Sol, sereias também
se afogam na solidão do oceano, todavia.
Amaldiçoadas por Afrodite...

Seus cânticos soam melodias de amor,
mas tal ideal só materializa destruição.

No dia fatídico, os marinheiros se lançaram
para os mares, buscando, desesperados,
pelas vozes lindas e abissais.

O bardo, entretanto, também era mestre
da arte musical, conseguindo resistir
aos cantos deslumbrantes.

Certa sereia mostrou-se em som e imagem.
Encantada pela lira, subiu para a claridade.

Encantado por sua Beleza, adentrou,
o bardo, na rápida primavera de sua vida.

E, pela primeira vez, a sereia
não quis matar com sua paixão.

Sem poder tocá-lo, atirou-se
de volta para os mares profundos
onde expiaria sua dor pela eternidade.

Nunca mais levaria pobres espíritos
para o leito dos oceanos.
Aguardaria que as ondas, lentamente,
dissolvessem sua alma nos sais do mar.

Chocado pela Beleza violenta,
esperaria, o bardo, que os ventos fizessem
sua triste lira ser ouvida nos mares gregos,
para dizê-la que ele preferia
ter morrido em seus braços.

Descobriu, por fim, que era a luz do dia
quem precisava se preencher de sombras.
Pois o sentido de sua vida era a saudade.

sábado, 26 de maio de 2012

Beleza, ó maldição incompreendida!

Beleza, ó maldição incompreendida!
A singela tragédia bem-vista.
A luz solar dilacerando a visão.
O majestoso olho do furacão.

Beleza: o cataclismo mais querido!
Irmã da guerra, destruição e criação.
Fidelidade e traição.

Beleza: o defeito mais procurado!
Tem o inalcançável à mão.
Submete o forte pela sedução.
O fraco já não tinha chance mesmo...

Mas os já belos reconhecem a verdadeira cruz.

O real portador da treva
é celestialmente infeliz.
Estrelas curvadas a seus pés
tornam-no rei de universo vazio.
Pois o sentido do mundo
e todas as palavras proferidas
e todas as palavras imaginadas
se esgotam na pura contemplação.

O real portador da maldição
desconhece a sincera boa-vontade.
Nenhuma conversa, e nenhuma
palavra amiga é a ele endereçada.
Pois todos só dialogam
para ouvir a voz da Beleza
e todos rastejam à surreal aparência
e todos perseguem os passos luminosos
que, no entanto,
são a superfície densa
da intocável identidade.

Face à multidão apaixonada,
o belo respira solidão.