domingo, 22 de julho de 2012

O Bardo e a Sereia

Nas ondas de muitos séculos atrás,
certo bardo fazia sua primeira viagem
rumo a descobertas nos mares gregos.

A tripulação era conhecedora dos perigos,
mas os bravos marujos acreditavam
que Poseidon acalmaria as tormentas.

Levavam o barco pelas velas, os vendavais.
Maresias de novas ilhas eram aguardadas.

Carregavam, os marujos, o possível adeus
em seus corações temerosos.

Grande compositor, o bardo ainda buscava
descobrir com que luz preencheria
as últimas sombras do dia, em sua lira.

Talvez a viagem, enfim,
o livrasse das aflições de uma vida
sem razão – perdida em tempo e espaço,
enjaulada nas teias do dia-a-dia.



Em mares vindouros, as sereias aguardavam
novos homens que pudessem devorar.

Não há como não se atrair, tamanha é
a Beleza, que até ofendeu a Afrodite,
tamanho é o perfume do Lótus.

Longe da luz do Sol, sereias também
se afogam na solidão do oceano, todavia.
Amaldiçoadas por Afrodite...

Seus cânticos soam melodias de amor,
mas tal ideal só materializa destruição.

No dia fatídico, os marinheiros se lançaram
para os mares, buscando, desesperados,
pelas vozes lindas e abissais.

O bardo, entretanto, também era mestre
da arte musical, conseguindo resistir
aos cantos deslumbrantes.

Certa sereia mostrou-se em som e imagem.
Encantada pela lira, subiu para a claridade.

Encantado por sua Beleza, adentrou,
o bardo, na rápida primavera de sua vida.

E, pela primeira vez, a sereia
não quis matar com sua paixão.

Sem poder tocá-lo, atirou-se
de volta para os mares profundos
onde expiaria sua dor pela eternidade.

Nunca mais levaria pobres espíritos
para o leito dos oceanos.
Aguardaria que as ondas, lentamente,
dissolvessem sua alma nos sais do mar.

Chocado pela Beleza violenta,
esperaria, o bardo, que os ventos fizessem
sua triste lira ser ouvida nos mares gregos,
para dizê-la que ele preferia
ter morrido em seus braços.

Descobriu, por fim, que era a luz do dia
quem precisava se preencher de sombras.
Pois o sentido de sua vida era a saudade.