segunda-feira, 31 de maio de 2010

Em labareda

Uma esfinge se abate
sob o fogo escarlate,
mas meu verso é etéreo,
não queimou seu mistério.

Ricocheteia a latrina
no argumento vicioso
que se esculpe em pedra ígnea:
meu poema é imune a fogo.


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domingo, 9 de maio de 2010

Celacanto

No fundo de qualquer mar
sempre está o celacanto a flanar,
andando e nadando e voando
no ritmo em que bem quiser navegar.
Assim, sem perder o encanto.

Não há paredes ou calçadas.
O oceano é uma avenida sem trânsito
e sem os murmúrios transeuntes.

O silêncio de sua idade
- uma era vasta tal qual o mar-,
pesa em seu corpo,
mas é vital à sua nobreza.

Só há o celacanto lá.
Sua onipresença é elusiva,
eslúvia na matiz lasciva
do abismo marítimo.

Alguém despertaria tamanho misticismo e beleza quanto um celacanto?
Nenhum humano, na certa.




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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Morte - Ressurreição

A alvorada era pálida e densa.
Não havia pássaros cantando.
O herói que desistiu da recompensa,
no astral a vagar em marcha intensa,
encarava a Lua no ocaso nadando,
imerso nas nuvens do céu se elevando.

Nunca mais ouviu suspiros.
Nunca mais lhe falaram de amor.
Agora, os astros lhe traziam temor.
E sua saudade era seu retiro.

No momento, sentiu um tiro,
que cruzou, do corpo, a podridão.
Seu óbito veio como martírio.
O que pensou ser o eterno alívio,
foi o que o lançou nas trevas do horror.
Seus esforços o levaram à depressão.

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Rasgando a noite em acordes de esperança,
veio a fé com sua suprema aliança:
a vontade, o amor e a vida.

Seu Ágape que era impulsão retida,
ao mundo trouxe encanto de infância.
Reanimando o corpo para uma nova estação.

Era a primavera que escalava o horizonte,
se alastrando pela plena imensidão,
com sua coroa ofuscante em diamantes.

Lançou por terra, do herói, a austera fronte.
Pariu no céu o ciano da renovação.
Tornou o fúnebre uma valsa brilhante.


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terça-feira, 6 de abril de 2010

A enxurrada

Os rios mais mortíferos cruzei,
nas dunas mais ferventes mergulhei,
os montes mais agudos escalei,
mas na estrada engarrafada é que parei.

Nem a marquise, velha e forte, me abrigou,
nem a casinha aconchegante me abrigou,
nem a bruma, brava, briguenta, me abrigou,
nem, imponente, La Catedral me abrigou.

No Rio Maracanã... estava lá a calamidade.
Imerso em heroísmo, eu o trilhei sem sanidade.
Estando já do outro lado, triunfante a erguer o trunfo,
descobri, então desolado, que acabara a aula no mundo.


Avante, soldados da ci..ê...n........blub!


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sexta-feira, 2 de abril de 2010

A dialética da coragem

A coragem desembainha a espada
Mas é o medo que golpeia o inimigo.

A coragem levanta a bandeira
Mas o medo é quem a finca no solo inimigo.

A coragem coroa o rei
Mas é o medo que governa.

A coragem fundou povos e nações
E o medo garantiu-lhes a sobrevivência.

O que é a coragem, senão uma virtuosa sacerdotisa que
cegou o medo para admirar sua beleza e poder?

(Ricardo Costa)


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terça-feira, 16 de março de 2010

Flor do destino

Desastre na estrada:
uma flor vítrea rachada.
Que garoa a regaria?

Se o solo a abandonou,
se o Sol dela se esquivou,
se os ventos nela rebentaram...
qual bosque a acolheria?

Pobre flor renegada.
Uma semente bela despedaçada.
Nunca daria fruto, mesmo...

Flor do destino de todo homem.
Com o tempo,
a luz da donzela se apaga.


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domingo, 14 de março de 2010

Rezando pelas sombras

Eu já vivi dias felizes.
O tempo que duraram foi infinito,
mas ele também passa rápido.
Tão rápido...

Todas as eras cabem dentro desse ano,
mas esse ano durou pra mim o mesmo que um dia.
O que eu orei desde então
plasmou-se em minha vida.

Meus sonhos,
meus ideais,
foram pra longe,
não os posso alcançar.

Fora da sanidade,
pensei que estava rezando
pelo meu próprio bem,
mas descobri que rezava...

Pelas Sombras!
Ergui um templo pra saudade.
Pelas Sombras!
Passei a me abrigar, sem saber,
sob a capa do supremo caçador.

Um santuário de areia
se ergue para um deus feito de vidro.
Uma missa se celebra pra um amor
platônico...

- Não se entregue, desgraçado, perante a dor!
Vai além e mostra a todos seu esplendor!
Não reze com tanto ardor,
tiras da vida o próprio sabor!

E agora,
procura
o seu destino!
Ele nunca esteve por lá...

Fora da sanidade,
pensei que estava rezando
pelo meu próprio bem,
mas descobri que rezava...

Pelas Sombras!
Ergui um templo pra saudade.
Pelas Sombras!
Passei a me abrigar, sem saber,
sob a foice do supremo caçador.


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