quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ano novo

Aqui estamos,
aqui chegamos.
É o limiar
do novo ano,
de um novo encanto.
O que é ruim
já foi pelo cano.
Saudemos o alegre, feliz novo ano!

A Terra partiu,
e agora já volta
ao mesmo ponto
onde o Sol se entorta,
pela mesma linha,
a percorrer o céu.
Pois a vida é um ciclo.
Saudemos o alegre, feliz novo ano!

Entre flores e tiros,
entre muitos presságios,
entre grandes martírios
e pequeninos atos,
o que foi feito se assoma
num único segundo:
a virada do ano,
a virada do mundo.

Precavei-vos do futuro.
Sabe-se lá o que vem
dos escombros do próximo minuto.

Não esqueceis o passado,
a lanterna que vos guiará
pelos escombros do próximo passo.

Saudemos o estranho, feliz ano novo!


Creative Commons License
Ano Novo by Richard Martin Souza is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Based on a work at lacatedraldasletras.blogspot.com.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Etnocentrismo

Na Europa foi a Inquisição,
morreria qualquer bruxo pagão.

Na África foi o Imperialismo
e mais um pro catolicismo.
Eram todos uns desalmados,
hábitos de incivilizados.
Levaram, então, bons costumes.
Trouxeram milhões de escravos.
Realmente, ótimos costumes.

Na igreja, é "descarrego".
Lá, encosto não tem sossego.
Umbandista está todo errado,
afinal a Bíblia nunca está ao contrário.
"Contradição? Como? Foram 20 homens inspirados!"

O radical de qualquer um dos lados,
pensa que nunca está errado.
"Eu sou o detentor da verdade!
Venham pra minha nova religiosidade!"

Mas a epistemologia já nos conta,
que a verdade o homem nunca encontra.
Como podes, então, mero mortal,
dizer que todo o resto é ilegal?
Estás acima do bem e do mal?
Sejas fervoroso, sejas ateu,
o teu mundo não é melhor que o meu!

Se ainda dizes que estou é errado,
então nós, aqui, testemunhamos
o Imperialismo renascendo, contemporâneo.


Creative Commons License
Etnocentrismo by Richard Martin Souza is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Based on a work at lacatedraldasletras.blogspot.com.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Trilha noturna

Sobe pela rua
Sobe com a bruma
que A noite ainda é tua
Sobe até a Lua!

Vai com a neblina
Vai, e sem espera
Vai pela atmosfera
que A noite é irrestrita!

Corre como a luz
E vai com lentidão
Ao paradoxo da salvação
que A noite te seduz.

Sobe essas escadas!
Vai, e sem escalas!
Voa com tuas asas!
pois Tuas pernas já estão em brasas...

Aproveita o Sol escondido
que O teu caminho é nebuloso
Vai! Que o céu está lindo!


Creative Commons License
Trilha noturna by Richard Martin Souza is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Based on a work at lacatedraldasletras.blogspot.com.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Um quadro na parede

Uma reflexão sobre a arte.

Pintou-se o quadro,
enquadrou-se a pintura.
Emoldurou-se a doçura
e adoçou-se a moldura.

Inserem-se os porquês
e a arte se desfaz.
Retiram-se os porquês
e a arte se (in)explica.

Pintou-se o gênesis,
gerou-se a pintura.
Armou-se o deus
e endeusou-se a armadura.

Insere-se a razão
e a arte se esgota.
Insere-se a emoção
e a arte se inicia.

Estoura uma bomba,
e nova arte se cria.
Se avoa uma pomba,
e nova arte se cria.

Se existe alguma sombra,
a arte lá impera.
Se a luz do dia impera,
o impressionista lá pondera.

Clareou-se a orquestra
e orquestrou-se o clarão.
Ampliou-se a festa,
festejou-se a amplidão.

Pintou-se a viola,
violou-se a pintura.
Eternizou-se a forma,
formou-se a (e)ternura.

Um quadro fixo no muro,
mas um vetor sem sentido.
Será uma cópia do mundo,
ou uma performance do instinto?

Se a arte invoca
os verbos de tua alma,
não tente explicá-la com
tua boca de carne morta.


Creative Commons License
Um quadro na parede by Richard Martin Souza is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Based on a work at lacatedraldasletras.blogspot.com.

domingo, 29 de novembro de 2009

Recuerdos de la Alhambra - Francisco Tarrega

Ouça a música e leia os versos lenta e calmamente, sem pressa. Não se esqueça de desfrutar de cada nota, de cada nuance e de cada emoção que lhe despertar este divisor de águas do violão erudito - Recuerdos de la Alhambra.




Para onde vai aquela ave?
Voou alto, por entre as nuvens...
Nossos espíritos voaram junto.
Para onde?
Voamos todos juntos
para lugar nenhum,
ou para todo lugar do mundo.

Uma cachoeira celestial
nos banha com suas águas,
límpidas e cristalinas.
Bebamos dessa cascata,
um alimento sentimental.
Nademos todos juntos
para além dessa toccata.

A terra que se estica
sob as asas de minha alma
vê a noite e vê o dia,
os reflexos da Imensidão.
O alvorecer e o entardecer,
Lua nova e Lua cheia,
provém todos da mesma centelha.

Numa floresta de plácidas árvores,
cujas copas alcançam os deuses
e cujas flores florescem fluorescentes,
chegarão uma ave e uma legião de mentes.
Desfrutaremos todos da paz eterna,
ao som das últimas lástimas de Alhambra.

Mantenhamos acesas, por ora, as chamas de nossos corações, restantes das centelhas primevas que incendiaram o Universo em vida.

--------------------------------

Esses versos aí em cima foram uma completa doidera rsrsrs. Escrevi o que me foi sendo desperto pelo fluir da música... Pode não fazer sentido nenhum! Mas quem disse que a arte precisa fazer sentido? Esses versos loucos fazem total efeito, mas não em nossa mente, em nossa razão - eles fazem efeito completo em nossas emoções, ou, pelo menos, nas minhas... Mesmo não sendo tão bons quanto eu queria que fossem (talvez eu nunca consiga fazer algo tão bom quanto o que eu pretendo), eles são sublimes (e talvez eu e todos os outros artistas nunca consigamos fazer algo que não seja sublime).

Alguém acha que a arte não está além da compreensão e da beleza racional? Eu acho que apenas no ato de sentir é que a arte se mostra e se (in)explica, sublime que é e que sempre será.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Soneto inacabado

Numa sombra bem distante,
sopra um vento sibilante
que brinca num campo verdejante.
Encontrei-me lá, maravilhado!

É uma clareira sem destino,
a vida flui sem compromisso.
Para o futuro, o céu convergindo,
largando-me ao passado.

Ainda reaverei as minhas noites de sono perdidas,
em cujos dias imperava a lassidão.
Tornar-me-ei leve como o era aquela voz feminina.

Ainda retornarei à sombra dos campos verdejantes.
Me abandonarei a toda ilusão.
Regressarei a de onde nunca deveria estar distante.


Creative Commons License
Soneto inacabado by Richard Martin Souza is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Based on a work at lacatedraldasletras.blogspot.com.

Espectro magistral

"Feito para e dedicado à professora J. Lira"

O mestre nos concede a espada,
arma gloriosa para lutar.
São as batalhas sob o nublado opaco
que tornarão o futuro transparente.

Há os que lutam em prol do obscuro,
caos lugubremente ordenado.
Mas são assim por nunca terem se banhado
nas águas do mar de um sábio mestre.

Sob a majestade de seu olhar
amanheceram todos os povos.
Sob a atmosfera de sua mente
floresceram, vivazes, as ideias.
Sob a plenitude da comunhão dos mestres,
restaurou-se a esperança no fim do túnel.

De todos os professores,
eu hei de escolher apenas um,
aquele que me orientará
ao longo dos caminhos do cosmo.
Das ideias, escolhi a mais formosa,
e das formosuras, escolhi a mais divina.

O caminho infinito da sabedoria
será trilhado a passos largos.
Toda expiação será lacônica,
se for ao lado de minha mestra,
a lira de uma sonata sem fim,
a Lira de um aprendizado sem fim,
mais uma Lira nesta História sem fim.

O tempo irá fluir numa corrente inexorável,
mas meu orgulho manterá-se, inabalável.
Ele continuará cruzando o Universo.

Me orgulho de, um dia, ter sido testemunha
da poesia que se ouve no abrir dos lábios.
Me rompo em emoção ao sentir a aurora,
o renascer dos milênios de loucura e glória.


Creative Commons License
Espectro magistral by Richard Martin Souza is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Based on a work at lacatedraldasletras.blogspot.com.