segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Corredor da Morte

Tem uma estrada longa.
Tão longa! Nem vejo o fim...
Ah, que adiantaria?
O real nunca é tão belo,
e o além me instiga o faro.

Então, por ela, caminharei!
Do mundo, à tangente chegarei!
Alcançar o limiar da Terra plana?
Claro! Nele, vou me pendurar!


E inicio o caminhar até a ponta,
a aventura que ferve em mim.
Já ouço a voz da euforia!
Eu sempre quis o futuro sincero
que a vida só fazia tornar raro.

Passam paisagens.
Mortes verdes, pássados amarelos,
traichoeiras límpidas e véus azuis intermináveis.

E, nas celas, pessoas e ratos,
em luta pelos últimos grãos
de dignidade.

Já vejo a saída da caverna!
A luz difusa me aguardava.
Desde o sempre, conhecia,
da vida bandida, o desfecho.

Assim que eu estiver no desfiladeiro,
meu grito ecoará nos sete mares.
E um raio muito intenso, ao me romper,
libertará minha pobre alma pra voar.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Verdadeira saúde não é se prevenir da doença, é a doença se prevenir da gente!

domingo, 21 de agosto de 2011

Aeons

Vai contar para o Paulinho
que eu vou lá pra madrugada
acender uma fogueira
e iluminar a encruzilhada.

Ah! Que solidão!
Sombras do nosso verão...

A tocha da juventude se avoluma em ti!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Mal II

- Ei, colega, conta aí como você veio parar nesse lugar aqui!

- Um cara me empurrou lá na pista de dança, tá ligado... Aí também eu saí rebocando ele e só parei quando fulminei o maluco. Aí pô homicídio, né? Tô aqui agora, parcero. Que merda cara... ah... pô tô lembrando quando eu era criança, que os outros garotos quando tentavam me bater minha mãe entrava sempre no meio e sapecava eles. Ela é foda! Ela sempre me garantiu, mané! Pô eu me amarro nela, acho que ela gosta de mim pra cacete. Mas agora num adianta nada. Preso aqui, amor não serve pra nada.

- Você, na verdade, entrou na prisão desde quando sua mãe resolveu te defender de tudo, seu pit-boyzinho de merda. Se tentavam te bater é porque tu vacilava com eles, mermão. Esse amor de mãe é que fez tu achar que ia sair impune de qualquer coisa. Quando tu rebocou o cara, foi com suas mãos, mas quem dava os impulsos aos teus braços foi o amor da tua mãe. Quem te prendeu foi ela. Você já tava encarcerado. A vida só tava esperando tu cair numa cela de verdade, pra ver se ajeitava a cabeça da tua família.

- Porra, cumpade... nem imagino o quê que tu fumou pra tá aqui hein.

sábado, 23 de julho de 2011

O Mal I

- Judeu, mas que coragem! Você tinha muita esperança em conseguir se safar?

- Eu a vomitei antes que ela me sufocasse ou fuzilasse. Expelir o peso da espera pelo milagre foi o que me deixou leve para correr e fugir dos alemães.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Uma balada na História

Prélude et Presto

Ante o alvorecer da Renascença, vivia, nas terras sicilianas, um bardo. Sob a face do bardo, habitava uma criatura estranha, tão poderosa quanto suas trovas. O bardo insistia em se angustiar e se castigar, ao não revelar seu demônio à realidade comum. E se, um dia, ele fosse devorado vivo? E se fosse, este demônio, a tão buscada inspiração a preencher eternamente as lacunas de seus versos?





Allemande

Trabalhando a loucura da alma do bardo, os laços e os traços da dor se evaporam. Quando ele e o alaúde se casam nas nuvens de Lá, se emancipa todo crime e aleivosia das terras de cá.





Courante

Mas ele estava perturbado. Não era ele, verdadeiramente, a se manifestar. Glória e fama empurravam seu ânimo, aproximando-o da tentação de sentir-se uma suposta deidade da arte. Não obstante seu grande reconhecimento, sua voz começava a sentir a fraqueza da alma, que já não encontrava inspiração no Belo exterior. Os astros, que sempre lhe confiaram rimas arrebatadoras, se esconderam sobre nuvens invisíveis, e já nem, sequer, elucidavam o bardo sobre os rios do destino.





Sarabande

A longo passo, este bardo desapareceu da vastidão dos horizontes, lentamente cedendo espaço à sua face outrora renegada. Sua vida tornou-se o início de uma missa, onde os probres seres afligidos e parcamente esperançosos velam, unicamente, por não perder a sanidade. Ainda assim, o bardo sabia que havia algo suspenso no ar, e esta eslúvia sensação era o único bem que ele tentava agarrar e possuir.





Gavotte I et II

Sua vida tornou-se o fim da missa. Agitada. Fervente. Tinha rastros lacônicos do Toque dos céus, que se assomavam numa arte tão valente, vibrante, violenta, que poderia violar o mundo num vira-mundo. O tridente do demônio se revelou: era uma espada luminosa. Então trovejou sua voz e suas cantorias por todos os campos, praias, castelos e bastilhas, ao ponto de inspirar a nova geração, junto a outros bardos tais quais ele, a escalar os próximos degraus rumo às distantes esferas celestes da Sabedoria.





Gigue

E se abriram os portões dos jardins do Novo Mundo! As novas terras e mares de encantos e desastres desafiavam os limites da antiga λογοσ* que insurgia ao horizonte. E um espectro, um espectro instigante e diabólico, passou a rondar as terras européias, o espectro de que a Verdade era próxima. Mal sabiam os ascendentes heróis que o caminho ao Renascimento real seria muito mais longo! Muito mais assustador! Entretanto, o mero caminhar em Sua direção já revela milagres além da órbita da humanidade. Milagres que fizeram os astros girarem novamente em torno do Sol, o mesmo Sol que já se ouvia nos versos do bardo e que brilhava nas frases do alaúde. E foi este singelo bardo, antes atrativo regional, que, em seu despertar pessoal, adquiriu importância milenar e abrasou os corações do ser humano, tornando os panoramas, doravante, abertos.




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*Logos: razão, capacidade que difere o ser humano dos outros animais

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Se o rio precisa do mar,
para que descer a montanha?
Se a façanha da água é o encontro,
só em um ponto vai desembocar?

Para que o eterno ciclo de busca e (des)encontro?

Para que o obstáculo, se a união é inevitável?

Para que a tortura, se a morte é inevitável?

Para que o casamento, se o amor não vai ter fim?