domingo, 7 de novembro de 2010

Do trabalho, da razão e da natureza

          Qual é o lugar do homem no mundo, a natureza? O ser humano é completamente diferente dos outros seres vivos, é algo nunca antes presenciado no universo. Ele é racional, sua natureza é seu "logos", como já dizia Aristóteles. Isso tem uma consequência, ao mesmo tempo, fantástica e aterradora: ele deve construir seu lugar no mundo, na natureza, e não simplesmente encontrá-lo para desfrutar. Há de se trabalhar para erguer a si e à humanidade a glória de se estar um patamar além da própria natureza. Fantástico e aterrador.
          O trabalho exige cooperação. O emblema mais proeminente da História Antiga resiste até nossos dias devido ao trabalho de uma civilização inteira. As pirâmides egípicias e a esfinge ainda resistirão pelos séculos dos séculos. Exemplos atuais de cooperação bem-sucedida são as empresas que se organizam e se associam em prol de uma causa comum a fim de proporcionar a si mesmas e ao resto do mundo uma estadia mais digna na Terra através das inovações, produtos do processo.
          O trabalho tem a si mesmo como principal produto, apesar das conquistas decorrentes. Emprego falta, mas trabalho não. Com a explosão tecnológica no século passado, temia-se a mecanização majoritária do trabalho. Pelo contrário, atualmente nós vemos os horizontes de possibilidades se abrindo, tendo o conhecimento, o "logos", como principal motor. As áreas de pesquisa são almejadas como nunca. O ser humano pode vencer o desemprego através do estudo e do empreendedorismo. Basta dos governos o incentivo, o que não se vê satisfatoriamente no Brasil.
          A capacidade e a inventividade humanas são fantásticas. Entretanto, em qualquer época foi, é e será aterrador considerar um certo fator do ser humano: ele é falho. A sua principal falha, muito mais deletéria que as demais, é a sua vontade tentadora de trocar o avanço da humanidade pela ascensão singular de si próprio. Isso não é humano, é sub-reptício! A escravidão, por exemplo, corrompe definitivamente a dignidade do indivíduo. Destruindo o indivíduo, destruindo sua humanidade, é destruída a humanidade e seu lugar no mundo.
          Nosso "logos" nunca será perfeito, portanto o terror sempre existirá, mas certas falhas podem desaparecer da face da Terra. Deve-se conhecer as consequências globais de seus atos. Deve-se aperfeiçoar a razão. Longa vida à educação!

sábado, 23 de outubro de 2010

Canto de um pássaro

Canta pássaro forte!
Canta até a morte!
O pássaro que canta agora
canta a vida da nossa sorte.

Lá se vai lá...
pra nunca voltar,
sem olhar pra trás.
É o nosso herói,
o pássaro capaz.

Vai voar, vai voar,
o pássaro do nunca mais.
O adeus se faz, voltar jamais.
Foi-se embora, a morte lhe cai.

Onde estás, teu corpo jaz.
Tu'alma vai pro além-mar.

Canta pássaro forte!
Canta até a morte!
O pássaro que canta agora
canta a vida da nossa sorte.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Gramado sob a Lua

A noite a brisa,
a grama o orvalho.

Deitar no coração da Terra
e possuir o inalcançável.

No universo da mente
estrelas são noivas enfeitadas.

E a Lua... ah! A Lua!

A noite, a brisa...
A grama, o orvalho,

a Lua, apenas eu e ela.
Está no céu, está ao meu lado.


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sábado, 9 de outubro de 2010

Letras na correnteza

Pra onde?
Ele vai andando nas cordas.
Procura uma nota no fim do caminho.
Não sabe, porém, que seu caminho
já trilhou toda a escarlate melodia.

Ele vai planando pelo ar.
Há dia sobre o vasto oceano.
O longínquo além confina a luz,
por baixo de panos dourados e de íris celestes,
da presença dela.

Mas a vontade dele
não é mais que um vidro quebrado,
tão frágil quanto o amor dela,
que se esgota e se desmancha.

Seria tudo isso
apenas uma mancha que se limpa?
Seria toda essa música
apenas palavras em nuvens?

Ele pressente que mais um ciclo
se findará em sua vida.
Que foi apenas uma vã epifania.

sábado, 25 de setembro de 2010

Pena

Multicolor,
de leveza transparente.
Uma lágrima colorida,
emblema de asas cinzas.

Só se vê o monocromático.
Não se ouve o levitar da ave.

Uma asa que só afoga.


















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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Engenharia Solar

Cresce verde o espinafre.
Houve de ser regado por água fresca.
Como o céu e o mar, espelhos azuis,
tem produto verde tão sem sintaxe?

Natureza, me deixas besta!

O verde, o azul, o vermelho,
o ultra-violeta, o infravermelho...
as cores se fundem e nos chicoteiam a cada beijo.

Ó, branco divino!
És produto da suprema parafernalha!

Mas nem em tão ascendente luz,
meu fascínio soturno se reduz.
À luz do nada é que se manifesta,
sem escrúpulos,
a poesia que se faz em mim indigesta.

Completamente dispensável, porém necessário.


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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Vontade de voltar

Onde o larguei?
Deixei-o tão só...
Sim, só. Só faltei eu.
Faltei para mim. Tudo bem pra ele.

Por quais pescoços rolou?
Quais corpos mirou?
Meu pingente está vazio.
Está agora noutro cordão.

Pedra verde como íris,
troquei-a por qualquer medalhão.
Como pude? Arruinei a flama de minh'alma,
não tendo ela outra casa pra incendiar, pra fugir.

Meu pingente agora está perdido.
Perdi-o em outro universo,
e um universo se perdeu em mim.
Para sempre.

Sei o que não fiz para me casar com sua preciosidade.
Não sei o que farei para repor esse pedaço do meu ser.


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